Os melhores fundos de ações e multimercados em julho e em 12 meses

By Katy Müller 15 Min Read

SÃO PAULO – As perspectivas positivas para a retomada da atividade local e global, em meio ao processo de reabertura das economias, mantêm gestores de fundos de ações e multimercados confiantes no desempenho de ativos de caráter cíclico, que são os que mais devem se beneficiar do avanço da vacinação.

Neste cenário, commodities, bancos e consumo são setores que ainda seguem com peso importante nos portfólios, mesmo com o aumento recente da volatilidade, frente à volta do risco fiscal no radar de preocupações dos investidores brasileiros.

Reflexo direto do aumento do temor do mercado quanto à política econômica do governo, o tombo de quase 4% do Ibovespa em julho, combinado a uma alta próxima de 5% do dólar contra o real, teve impacto direto sobre a definição dos melhores, e dos piores, fundos de ações e multimercados no mês passado.

Impulsionadas ainda pela alta de 2,2% do S&P 500 em julho, as estratégias globais se sobrepuseram com folga a fundos dedicados ao mercado doméstico no mês passado, que vinham liderando os ganhos nos meses anteriores, seja na categoria de ações ou entre os multimercados.

Na renda variável, destaque para a valorização na faixa dos 6% dos fundos de BDRs, ativos negociados na Bolsa brasileira que acompanham a variação do dólar e replicam o desempenho de ativos globais de renda fixa e renda variável.

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Entre os multimercados, além do fundo de criptomoedas da Vitreo, os fundos de fundos globais de M Square, Itaú Asset e Santander saltaram à frente dos pares, bem como o veículo que replica a estratégia All Weather, da Bridgewater. O fundo da Gama que acompanha o fundo da gestora de Ray Dalio, exposto à variação cambial, rendeu 8,6% em julho e tem ganhos de 21,5% em 12 meses.

Confira a seguir os cinco fundos das classes de ações e multimercados com as maiores altas e quedas em julho.

Com base em dados extraídos da Economatica, o levantamento considerou veículos não exclusivos, com gestão ativa, patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses e mais de 99 cotistas no fim do mês passado.

Na categoria de renda variável, foram excluídos fundos setoriais e monoações. Entre os multimercados, não foram considerados fundos de crédito privado.

Importante lembrar que retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, embora seja interessante analisar o desempenho histórico dos fundos para observar sua consistência.

Janela de um ano

No intervalo de 12 meses encerrados em julho, fundos de ações globais que investem nas big techs do mercado, mesmo que sem a contribuição do dólar, como os do Itaú e da Arbor, também se destacam frente aos pares.

No fim do mês passado, entre as maiores posições na carteira do fundo do Itaú, estavam nomes populares como Twitter, Baidu, Tesla e Ali Baba, além de gigantes do porte de Netflix, Facebook, Apple, Alphabet e Amazon.

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Na janela de um ano, os fundos de renda variável internacional dividem espaço com portfólios voltados a setores domésticos de caráter mais cíclico, que vinham na toada positiva da reabertura desde meados de março e que seguem com suas convicções inalteradas até aqui, a despeito da queda de julho.

O Hayp FIA, por exemplo, teve perda de 14,1% no mês passado, puxada pela queda de 19,7% das ações do Pão de Açúcar. O papel segue, contudo, como uma das posições mais importantes do fundo, que rende 50,5% em 12 meses. “Seguimos vendo o GPA como uma das ações mais baratas da Bolsa”, escreveram os gestores na carta referente ao desempenho de julho.

Confira a seguir os fundos de ações que mais se destacaram em um ano, assim como seu desempenho em 36 meses (no caso dos fundos com histórico para o intervalo), em 2021 e apenas em julho.

Na classe dos multimercados, além dos fundos de fundos globais e das estratégias long biased, cuja maior fonte de retorno são as ações, carteiras mais pulverizadas, com apostas variadas em juros, moedas, commodities e índices acionários, têm conseguido bom desempenho em 12 meses, mesmo com o tropeço de julho.

O Vista Multiestratégia é um desses casos, tendo passado por uma desvalorização de 7,1% no mês passado, mas ainda com ganhos de 30% em 12 meses. A maior perda do mês passado, de 6,1%, partiu do livro de commodities, no qual o multimercado tem uma importante alocação no setor de petróleo.

Na carta de julho, os gestores dizem ter trocado recentemente parte da posição na commodity em si por ações de empresas produtoras de diversas geografias. “Fica claro, após o mês de julho, que a troca foi precipitada. O setor se comportou de forma bem diferente da commodity. O petróleo subiu ligeiramente no mês, enquanto o principal ETF de ‘shale oil’ caiu 14,3%”, diz a carta do multimercado.

 

Bancos e commodities

Entre os fundos de ações de maior rentabilidade nos 12 meses encerrados em julho, e sem qualquer intenção de mudar o perfil do portfólio pelo recente aumento da aversão ao risco, o Guepardo Institucional FIC FIA tem valorização de 35,9% no período, contra os ganhos de 15,9% do Ibovespa. Somente no mês passado, quando o benchmark da Bolsa caiu 3,9%, o fundo teve desvalorização de 4,9%.

“Temos aproveitado a queda das últimas semanas para comprar mais das ações que gostamos”, afirma Octávio Magalhães, sócio fundador e gestor da Guepardo. Petrobras, Itaú e Vulcabrás são hoje as três maiores posições do portfólio relativamente concentrado, composto por 13 papéis.

Em meio à recuperação nos preços do petróleo, a Petrobras, diz Magalhães, tem a ação mais barata do mercado frente aos pares globais por qualquer métrica de avaliação que se faça, e também uma das mais descontadas na Bolsa brasileira. “O risco embutido no ativo pelo fato de se tratar de uma estatal é bem exagerado”, afirma.

No caso do Itaú, o gestor diz que também vê certo excesso por parte dos investidores na análise da tese de investimento. A perda de participação de mercado para as fintechs é um processo que ainda deve durar muito tempo, enquanto os preços parecem refletir que se trata de algo iminente, avalia Magalhães, que tem assento como membro independente no conselho de administração da Vulcabrás

Ele atribui ainda o resultado recente do fundo a papéis já há algum tempo no portfólio que atingiram valor tido como adequado para venda na janela do último ano findo em julho. Movida, Simpar, Cosan e Gerdau estão entre as ações nesse grupo.

Alinhamento de longo prazo

O fundo de ações Neo Future, por sua vez, acumula rentabilidade positiva de 31,9% na janela dos 12 meses, após ganhos de 2,1% em julho. Entre os papéis na carteira, destaque para nomes como Vivara, Alpargatas, Camil, Hapvida e Localiza.

Segundo Henrique Alvares, gestor do Neo Future, o cenário macro que rodeia as empresas naturalmente é levado em conta no momento de avaliar os investimentos para o fundo, mas uma análise minuciosa sobre os aspectos microeconômicos de cada negócio tem peso bem mais importante para fazer a seleção das ações.

Ao aportar o capital em determinada companhia, o horizonte almejado de investimento é de dez anos, capaz de atravessar diferentes ciclos econômicos, diz Alvares. “Nosso objetivo é ser um sócio contributivo. Procuramos ter uma atitude empresarial, mas ao mesmo tempo gerenciando o risco de mercado de um portfólio de ações.”

Para que o aporte seja efetivado, o gestor afirma ser essencial um alinhamento prévio dos objetivos de longo prazo com os executivos responsáveis por tocar as operações das empresas no dia a dia. E não apenas no que diz respeito às estratégias financeiras, mas também sob óticas não necessariamente refletidas nas métricas tradicionais de avaliação, como a abordagem ESG e os planos de transição para o meio digital.

O investimento em Localiza foi citado para ilustrar o raciocínio. A empresa de locação de automóveis, afirma Alvares, se encaixa no cenário futuro projetado pela gestora de aumento de uma mobilidade mais sustentável, por meio do investimento em carros elétricos.

Seguidor de tendências

Na classe dos multimercados, entre os fundos que têm entregado retornos de dois dígitos nos últimos 12 meses sem recorrer unicamente a estratégias de investimento no exterior, o Seival FGS Agressivo rende 24,9% na janela de um ano terminada em julho, após alta de 0,82% no mês passado. Sua proposta é fazer os investimentos com base no modelo quantitativo.

Neste tipo de estratégia, os gestores constroem modelos matemáticos com base em compilações de séries históricas de diversos ativos financeiros e dados macroeconômicos, com o objetivo de identificar as grandes tendências de mercado.

“Em uma analogia com o surfe, não queremos pegar as marolinhas perto da praia, mas ficar no fundo e pegar as maiores ondas”, diz Carlos Chaves, diretor de gestão e co-fundador da Seival Investimentos.

O portfólio do multimercado é composto por contratos futuros de quatro classes de ativos – índices de ações, taxas de juros, commodities e moedas – que variam de peso entre si, conforme as indicações apontadas pelas análises resultantes dos modelos matemáticos.

Após se beneficiar nos últimos meses da alta de commodities como petróleo, cobre, milho e soja, e de índices acionários como o Ibovespa, ambas as apostas já estão hoje bem menores na carteira do multimercado.

“Os modelos apontam que tivemos uma grande tendência para as commodities, do terceiro trimestre de 2020 até o segundo trimestre de 2021, quando os preços começaram a cair e zeramos a maior parte das posições na classe”, afirma Chaves.

As principais apostas do multimercado estão no índice acionário americano S&P 500 e no mercado de juros, com posições que ganham com a alta das taxas no Brasil e a queda nos Estados Unidos.

Bolsa, juros e câmbio

Entre os multimercados macro de gestão discricionária, isto é, em que os gestores tomam as decisões de investimento com base em suas percepções sobre os mercados no dia a dia, o Polo Macro acumula valorização de 15,8% em 12 meses, após queda de 4,4% em julho.

Ações brasileiras de consumo relacionadas à tese de reabertura, como das Lojas Renner e da Marisa, e na América Latina, como da chilena Falabella, trouxeram contribuição positiva para o portfólio do multimercado e continuam na carteira em meio à continuidade dos auxílios financeiros, diz Nicole Leta, sócia da Polo Capital.

Por outro lado, posições no real contra o dólar e aplicadas na curva de juros local, que ganham com a queda das taxas, subtraíram retorno, mas também continuam no portfólio. Mesmo com os riscos fiscais no radar, Luciana Vieira, da Polo, considera exagerados os níveis nos quais o mercado precifica a taxa de juros em 2023, por volta de 9,5% na curva futura.

Por conta disso, o multimercado da gestora carrega posições aplicadas, que ganham com a queda dos juros, nos vencimentos de curto prazo. “Temos sofrido bastante com essa posição, mas entendemos que um juro precificado ao redor de 9,5% chegou perto do teto”, afirma Luciana, acrescentando que a alta da Selic tende a dar maior respaldo para a moeda local. O risco de o real se aproximar novamente dos R$ 6,00, diz a especialista, hoje é muito menor com a alta da Selic em curso pelo Banco Central.

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