SÃO PAULO – As taxas oferecidas pela maioria dos títulos públicos intensificaram um pouco mais as perdas na tarde desta terça-feira (29), após uma manhã de recuo moderado na plataforma do Tesouro Direto. No radar dos investidores está a divulgação de novos dados de inflação e mudanças no valor nas bandeiras tarifárias pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a partir de 1º de julho.
Após reunião hoje pela manhã, os dirigentes da Aneel aprovaram reajuste que vai elevar a taxa de R$ 6,243 por 100 kWh para R$ 9,49 por 100 kWh para bandeira vermelha patamar 2. Ou seja, uma alta de 52%.
O mercado monitora de perto a crise hídrica e os seus desdobramentos, porque um aumento muito forte nas bandeiras tarifárias pode gerar maior pressão inflacionária e consequentemente, exigir ação mais dura do Banco Central para elevar os juros de forma mais rápida do que o previsto.
Analistas consultados pelo Infomoney também apontam que o agravamento da situação dos reservatórios e da falta de água e energia podem ter alto impacto sobre a popularidade do presidente Jair Bolsonaro, o que pode influenciar a corrida eleitoral de 2022.
Investidores também acompanham a sinalização dada ontem pelo presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) de que a Casa poderá reduzir para 15% a taxação de lucros e dividendos na proposta na reforma tributária.
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Na atualização da tarde, os papéis do Tesouro IPCA com vencimentos em 2035 e 2045 pagavam retorno real de 4,09%, contra 4,14% na sessão anterior. Hoje, pela manhã os mesmos papéis ofereciam a inflação mais uma taxa de 4,10%. Após o almoço, as taxas dos títulos com vencimento em 2055 e juros semestrais mantiveram o juro real pago no começo da manhã de 4,39%, contra 4,41% que eram pagos um dia antes.
Entre os papéis prefixados, o prêmio do título com vencimento em 2024 caía de 8,01% no início das negociações para 7,99% durante a tarde desta terça-feira. Na sessão anterior, o título oferecia retorno de 8,08%. Da mesma forma, a taxa do papel prefixado com vencimento em 2026 recuava para 8,36%. Anteriormente, o título oferecia um retorno de 8,47%.
Confira os preços e as taxas atualizadas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto nesta terça-feira (29):
Crise hídrica
Além de o reajuste na bandeira vermelha patamar 2, a diretoria da Aneel anunciou novos valores para outras bandeiras. Agora, a amarela será de R$ 1,874 a cada 100 kWh e a vermelha patamar 1, de R$ 3,971 a cada 100 kWh.
A piora da crise hídrica levou o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, a fazer um pronunciamento ontem, no qual admitiu que o Brasil vive a maior seca dos últimos anos e pediu o uso “consciente e responsável” da água e da energia, já que o volume menor de água reduz o nível dos reservatórios e a geração de energia pelas usinas hidrelétricas.
Ainda na segunda-feira, o governo federal publicou Medida Provisória (MP) que institui a Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG), visando estabelecer medidas emergenciais para a gestão do setor. Na prática, segundo matéria do jornal O Estado de S.Paulo, ela dá poderes excepcionais para o enfrentamento da crise hídrica ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
“As diretrizes… poderão resultar em redução de vazões de usinas hidrelétricas, desde que sejam iguais ou superiores às vazões que ocorreriam em condições naturais”, indicou o texto da MP.
Segundo nota do Ministério de Minas e Energia (MME), a MP busca preservar a segurança e a continuidade do fornecimento de energia elétrica especialmente no segundo semestre deste ano.
Também no noticiário político, o deputado estadual do Amazonas Fausto Vieira dos Santos Junior presta depoimento na CPI da Covid no Senado.
IGP-M
A agenda econômica do dia também é reforçada pela divulgação do Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), que registrou forte desaceleração em junho. Neste mês, o indicador avançou 0,60% na comparação com maio, após registrar inflação de 4,10% um mês antes. Essa foi a menor alta desde maio de 2020.
A desaceleração foi ajudada pelo real mais forte e pela menor inflação no atacado, com deflação de produtos agropecuários e perda de força da inflação de produtos industriais. Em 12 meses, o IGP-M acumula alta de 35,75%. Mesmo com o avanço mais forte recentemente, o IGP-M ainda é tradicionalmente usado como referência para a correção de valores de contratos, como os de aluguel de imóveis.
Reforma tributária
Com a sinalização de que o projeto de lei referente à reforma tributária encaminhado na última sexta-feira (25) pelo governo pode sofrer mudanças no Congresso, investidores continuam a acompanhar de perto o tema.
No caso dos títulos públicos, o governo propõe que os rendimentos sejam tributados na fonte com uma alíquota única de 15%, a partir de 1º de janeiro de 2022. Hoje, segundo a tabela regressiva do IR, a tributação da renda fixa é de 22,5% para aplicações de até 180 dias, com uma alíquota que cai gradualmente e chega a 15% apenas para investimentos acima de 720 dias.
Para os analistas Ciro Matuo, Akinori Hieda e Paula Toute do Itaú BBA, a proposta do governo é positiva para os ativos de renda fixa, como títulos públicos e Certificados de Depósito Bancário (CDBs). Eles também veem com bons olhos a manutenção da isenção em produtos como Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), além de debêntures incentivadas, que já são isentas da cobrança de Imposto de Renda atualmente.
Resultados do governo
Investidores também monitoraram números das contas do Governo Central de maio. Depois de dois meses no azul, o resultado que reúne as contas do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central registrou déficit primário de R$ 20,947 bilhões no mês passado, segundo dados do Tesouro Nacional. Isso ocorre quando as despesas são maiores do que as receitas.
Mesmo com o resultado negativo, esse foi o melhor desemprenho para o mês desde 2019. Um ano antes, por exemplo, as contas do Governo Central também tinham fechado no vermelho em R$ 126,636 bilhões, com a alta sendo puxada especialmente por gastos extras para combater a covid-19.
No acumulado do ano até maio, o resultado primário foi de superávit de R$ 19,911 bilhões, o melhor para o período desde 2013. No mesmo período do ano passado, esse mesmo resultado era negativo em R$ 222,493 bilhões.
Hoje, a Receita Federal também trouxe que a arrecadação de impostos e contribuições federais somou R$ 142,106 bilhões em maio, o maior valor para o mês da série histórica da Receita Federal, que teve início em 1995. O resultado representa um aumento real (descontada a inflação) de 69,88% na comparação com o mesmo mês de 2020.
O resultado das receitas veio acima da mediana de R$ 136,100 bilhões das estimativas na pesquisa do Broadcast Projeções, cujo intervalo vai de R$ 108,700 bilhões a R$ 145,000.
No acumulado do ano até maio, a arrecadação federal somou R$ 744,828 bilhões, também o maior volume para o período da série histórica (1995). Mesmo assim, o valor representa um recuo real de 21,17% na comparação com os primeiros cinco meses do ano passado.
Cenário internacional
No exterior, a atenção dos investidores está voltada para novidades sobre a aprovação do pacote de infraestrutura no Congresso americano. Hoje, durante coletiva, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o líder da maioria democrata no Senado dos Estados Unidos, Chuck Schumer, quer aprovar o pacote com gastos no setor de infraestrutura até o fim de julho.
Segundo informações do jornal O Estado de S.Paulo, na semana passada, a Casa Branca entrou em acordo com um grupo de senadores republicanos e democratas sobre o plano de US$ 1,2 trilhão para a infraestrutura. Mas a proposta ainda precisa ser aprovada no Congresso.
O dia também foi marcado pela divulgação do índice de confiança de empresas e consumidores relativo a junho na zona do euro, que pontuou 117,9 pontos, frente à projeção de 116,5 pontos, e ao patamar anterior, de 114,5 pontos.
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