Tesouro Direto: com alta expressiva nesta tarde, taxas dos títulos públicos prefixados se aproximam dos 10% ao ano nesta 5ª feira

By Katy Müller 13 Min Read

Brazilian currency

SÃO PAULO – De olho na decisão sobre política monetária em que o Banco Central elevou ontem à noite a taxa Selic em um ponto percentual, para 5,25%, em um movimento amplamente esperado pelo mercado, os prêmios dos títulos públicos disponíveis para compra negociados via Tesouro Direto passaram a subir na tarde desta quinta-feira (5), após operar sem direção única na primeira atualização da manhã. O destaque está nas taxas pagas pelos títulos prefixados, que subiam cerca de 30 pontos percentuais após o almoço, ante os prêmios da sessão anterior.

Mais do que a alta dos juros na véspera, o foco dos investidores está nas sinalizações dadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Analistas de mercado se mostraram surpresos com o tom mais duro adotado no comunicado, com a indicação dada pelo BC de que pode subir os juros acima do nível neutro (que contrai a economia). Já no cenário político, o mercado segue atento às discussões sobre o reajuste do Bolsa Família no valor de R$ 400, além de precatórios e privatização dos Correios.

No Tesouro Direto, entre os títulos com retornos prefixados, o juro do papel com vencimento em 2024 avançava de 8,87%, na primeira atualização da manhã, para 9,15% na atualização da tarde, também acima dos 8,85% vistos na sessão anterior. O título prefixado com vencimento em 2026, por sua vez, pagava um retorno de 9,42% durante a tarde, contra 9,14% do começo da manhã — mesma taxa vista um dia antes.

Já o título prefixado com vencimento em 2031 e pagamento de juros semestrais pagava um prêmio de 9,88% na atualização da tarde, contra um prêmio de 9,52% do início das negociações. Anteriormente, o mesmo papel pagava um retorno de 9,56%.

No grupo de papéis com retornos atrelados à inflação, o juro real pago pelo título Tesouro IPCA+ com vencimento em 2026 subia de 4,05% para 4,19%. Um dia antes, o juro real oferecido pelo título era de 4,05%. Os títulos Tesouro IPCA+ com vencimentos em 2035 e 2045, por sua vez, pagavam retorno real de 4,38% após o almoço, contra 4,27% no início dos negócios. A taxa também estava acima dos 4,26% vistos um dia antes.

Os papéis atrelados à inflação com vencimento em 2055 e pagamento de juros semestrais ofereciam juro real de 4,55% na atualização da tarde, contra 4,45% no início desta quinta-feira. Anteriormente, o mesmo título pagava um retorno real de 4,47%.

Confira os preços e as taxas atualizadas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto nesta quinta-feira (5):

Taxas Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Copom

O destaque econômico de hoje está na repercussão sobre a decisão do Copom, na quarta alta seguida da Selic, que chega ao seu maior nível desde outubro de 2019.

No comunicado, o comitê ressaltou que elevar a Selic em um ponto reflete “seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022 e, em grau menor, o de 2023”.

A decisão de acelerar o ciclo de normalização foi vista pelo Goldman Sachs como a melhor estratégia para lidar com uma “clara deterioração das perspectivas para a inflação”, em particular dos componentes inerciais da inflação, que, em meio à reabertura em curso dos setores de serviços, pode levar a uma maior deterioração das expectativas de inflação.

O banco americano prevê nova alta de 1 ponto na próxima reunião do Copom, com uma subida “relativamente rápida” para 7% até o fim de 2021 e até 7,5%, no primeiro semestre de 2022.

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Durante participação em live do InfoMoney (confira no vídeo acima), Fábio Akira, economista-chefe da BlueLine Asset Management, e Marco Mecchi, head de estratégia macro da MZK Investimentos, recém-adquirida pela AZ Quest, destacaram a novidade do comunicado em que o Copom informa a intenção de levar a taxa Selic para um nível acima do considerado neutro.

Mecchi afirmou ver com bons olhos o tom mais hawkish (pró-aperto monetário) adotado pela autoridade monetária. “[O BC] precisava surpreender o mercado de maneira um pouco mais dura”, disse o gestor da MZK, fazendo menção à pressão inflacionária persistente e aos níveis elevados do câmbio.

A MZK projeta a Selic em 7% até o fim do ano, 0,5 ponto percentual acima do ponto visto como neutro, considerando uma inflação de 3,5% em 2022.

Na BlueLine, a projeção aponta para a taxa de juros em 7,5% até dezembro, com mais uma alta de 1 ponto na próxima reunião do Copom, seguida por aumentos de 0,75 p.p. e 0,5 p.p.

Após a decisão desta quarta, a XP elevou de 6,75% para 7,25% sua projeção para a taxa Selic ao fim do atual ciclo de aperto monetário, mas não descarta um aumento ainda maior. “Se as perspectivas para o risco fiscal se deteriorarem, a taxa Selic terminal pode precisar ser elevada para um nível acima da nossa projeção”, apontou, em nota.

Ao olhar o comunicado, os especialistas do Credit Suisse disseram que viram um tom um pouco mais hawkish por parte do BC do que o mercado esperava. Eles ressaltaram que a autoridade monetária indicou que pretende aumentar a Selic em mais um ponto percentual no encontro de 22 de setembro e que a taxa de juros terminal deve ficar acima do nível neutro, o que confirma a visão mais cautelosa em relação à inflação e uma estratégia de “fazer o que for preciso” para ancorar a expectativa de inflação.

Com expectativa de que a pressão inflacionária continue mais forte e da indicação mais incisiva do Copom sobre a ancoragem das expectativas de inflação, o time do Credit Suisse revisou o cenário e agora espera Selic de 8,25% até o fim de 2021, acima dos 7,25% previstos anteriormente.

Privatizações, Bolsa Família e precatórios

Ainda no radar local, as atenções também voltadas para o início da votação do Projeto de Lei 591/21 que abre caminho para a venda dos Correios. Anteriormente, o plenário rejeitou por 268 votos a 144 outro pedido de adiamento de deliberação da proposta.

A privatização é defendida pelos agentes de mercado por causa da falta de recursos da União para arcar com investimentos necessários ao setor.

O olhar dos investidores também está atento ao reajuste do programa Bolsa Família no valor de R$ 400, que foi reiterada ontem (4) pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em entrevista a uma rádio do Rio Grande do Norte, o presidente voltou a afirmar que o governo tenta elevar o valor médio dos benefícios do Bolsa Família para R$ 400, apesar de não haver previsão de recursos para isso até o momento.

“A média hoje em dia está em 192 reais. Nós vamos levar para no mínimo a 300, podendo chegar a 400. Porque houve uma inflação sim no Brasil, no mundo todo”, disse Bolsonaro. “Eu tenho buscado com a equipe econômica, dentro da responsabilidade. O ideal seria 400 reais o novo valor.”

De acordo com informações da Reuters, o governo não fechou ainda o valor do reajuste, porque a equipe econômica propõe um aumento de 50% do valor médio, o que elevaria dos atuais R$ 192 para pouco mais de R$ 285.

Também segundo informações repassadas à agência internacional de notícias Reuters por fontes do Ministério, o aumento exponencial do valor dos precatórios (dívidas de decisões judiciais que a União precisa pagar) para 2022 ocupa os recursos do Orçamento previstos para o reajuste.

Daí a necessidade de aprovação da chamada PEC dos Precatórios, que vem sendo defendida como essencial pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. A PEC prevê a possibilidade de o governo parcelar o pagamento dos precatórios, especialmente os de valores mais altos, na casa dos milhões de reais.

Dentro do cenário de privatizações, Gustavo Montezano, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), voltou a estimar ontem (4), durante evento, que as operações de privatização da Eletrobras (ELET3;ELET6) e dos Correios ocorram no primeiro semestre de 2022. Mas ponderou que a concretização das vendas depende do “apetite de mercado” para realizá-las no “preço correto”.

Também na cena doméstica, os investidores acompanham a notícia de que Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) acolheu notícia-crime encaminhada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra Bolsonaro sobre os ataques ao sistema eleitoral e determinou a “imediata investigação em face das condutas do presidente da República”.

O presidente subiu o tom nos ataques hoje e disse que “a hora dele [Alexandre de Moraes] vai chegar”.

Cena internacional

No cenário internacional, investidores monitoram dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos. O número de pedidos de auxílio-desemprego no país teve queda de 14 mil na semana encerrada em 31 de julho, a 385 mil, segundo dados com ajustes sazonais publicados nesta quinta-feira (5) pelo Departamento do Trabalho americano.

O resultado da semana passada veio em linha com a expectativa de analistas consultados pelo The Wall Street Journal. O total da semana anterior foi revisado para baixo, de 400 mil para 399 mil pedidos.

Na quarta, já havia sido divulgada a pesquisa ADP sobre folhas de pagamento privadas, que indicou a criação de 330 mil vagas em julho nos Estados Unidos, abaixo da expectativa de analistas de 653 mil vagas.

Já no Reino Unido, o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) decidiu manter sua taxa básica de juros, em 0,10%, e manter também o tamanho de seu programa de afrouxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês), em 895 bilhões de libras. A decisão sobre os juros foi unânime, mas a sobre o QE foi tomada por 7 votos a 1, de acordo com comunicado apresentado nesta quinta-feira.

Apesar da disseminação da variante delta no Reino Unido, os dirigentes do banco destacaram que o impacto do vírus sobre a economia do país diminuiu ao longo do tempo.

Enquanto isso na China, além do aumento da volatilidade gerado pela postura intervencionista, o governo local vem enfrentando a alta de novas infecções diárias de coronavírus, em meio à propagação da variante delta. As autoridades voltaram a implementar medidas de testagem em massa e restrições de viagens em determinadas áreas.

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