SÃO PAULO – Com uma deterioração do cenário fiscal brasileiro, ruídos políticos e preocupações globais pesando sobre os preços dos ativos domésticos, a convicção de gestores da América Latina com relação à Bolsa brasileira teve uma forte queda em agosto.
De acordo com a pesquisa “LatAm Fund Manager Survey”, do Bank of America (BofA), o percentual de investidores que apontaram as ações como a melhor classe de ativos no Brasil caiu de cerca de 70%, em julho, para menos de 40%, em agosto.
O percentual é o menor desde o início da pesquisa, em março de 2018. O levantamento do banco americano ouviu 31 gestores com cerca de US$ 89 bilhões em ativos sob gestão.
Por outro lado, com os prêmios pagos por títulos públicos em disparada diante do aumento de aversão ao risco, o percentual de investidores que diz ver os papéis emitidos pelo Tesouro atrelados à inflação como os mais atrativos no mercado cresceu de menos de 10%, no mês passado, para cerca de 25%, em agosto.
Com os investidores mais cautelosos com ativos de maior risco, no mercado de renda variável, 49% dos gestores consultados disseram esperar que o Ibovespa termine 2021 acima de 130 mil pontos, ante 78%, no mês anterior.
A projeção representa um potencial de alta de 9,1%, em relação ao fechamento do último pregão. Em agosto, o índice acumula perdas de 2,2%, até ontem, enquanto, no acumulado do ano, o índice opera próximo da estabilidade, com alta de 0,14%.
Entre os principais gatilhos positivos para a Bolsa brasileira, os participantes da pesquisa citam o avanço da vacinação seguido pela reabertura econômica, bem como uma maior visibilidade com relação à continuidade das políticas econômicas.
Assim como no levantamento anterior, a maior parte dos gestores ainda espera um crescimento acima de 4% do Produto Interno Bruto (PIB).
Com relação à taxa básica de juros, os entrevistados enxergam a Selic encerrando dezembro deste ano entre 7,50% e 8,25% ao ano.
Na avaliação dos gestores consultados pelo BofA, apenas uma Selic igual ou acima de 8,50% poderia reduzir o fluxo de investidores para a renda variável.
De olho no Fed
No escopo mais abrangente da América Latina, 39% dos investidores dizem monitorar como o principal risco para a região um possível erro de política monetária por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Na sequência, aparecem fatores como a economia da China e o impacto para as commodities, citados por 20% dos entrevistados. O fortalecimento do dólar também aparece entre os riscos no radar.
Segundo a pesquisa, 26% dos gestores na América Latina planejam ampliar a alocação em ações nos próximos seis meses, abaixo da média histórica do levantamento, mais próxima de 35%.
Entre as maiores posições overweight (acima da média do mercado) nas carteiras dos gestores, aparecem setores de consumo discricionário, materiais e finanças. Já as maiores posições underweight (abaixo da média) estão em bens de consumo, utilities e industriais.
Para os próximos seis meses, as principais estratégias dos gestores de América Latina consultados recaem sobre teses de investimento relacionadas à reabertura econômica pós-Covid. Na sequência, aparecem temas ligados a commodities e exportadoras.
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