SÃO PAULO – A alta da taxa Selic em um ponto percentual, para 5,25% ao ano, na noite desta quarta-feira (04), junto da sinalização passada pelo Banco Central (BC) de que deve levar os juros para um patamar acima do neutro, isto é, com potencial contracionista para a economia, é o caminho que a autoridade monetária encontrou para tentar recuperar sua credibilidade no mercado.
Ao menos é essa a avaliação da economista Luciana Vieira, sócia da gestora Polo Capital. “O BC virou um banco central totalmente reativo à inflação corrente, parece que não tem um plano de voo”, afirma.
Luciana lembra que, até duas reuniões atrás, a sinalização passada ao fim do encontro do Copom era de uma normalização parcial dos juros. Em junho, a indicação já havia mudado, apontando para uma normalização da Selic até o ponto considerado neutro. E nesta quarta, veio a mensagem de que os juros podem precisar subir acima do ponto neutro.
“Parece que o BC perdeu a credibilidade, e está colocando todas as cartas na mesa para tentar recuperá-la, só que isso vai ter um custo alto”, diz a economista, fazendo alusão ao impacto que a postura mais incisiva da autoridade monetária pode acarretar sobre as perspectivas de recuperação da atividade econômica. “Acreditamos que o BC está no modo pânico.”
Durante participação em live do InfoMoney, Fábio Akira, economista-chefe da BlueLine Asset Management, e Marco Mecchi, head de estratégia macro da MZK Investimentos, recém-adquirida pela AZ Quest, também destacaram a novidade do comunicado em que o Copom informa a intenção de levar a taxa Selic para um nível acima do considerado neutro.
“Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar acima do neutro”, diz o comunicado do BC.
Quando está abaixo do ponto neutro, a intenção da autoridade monetária com a taxa Selic é gerar um estímulo para o aquecimento da economia, e, quando está acima desse ponto, o objetivo é reduzir o ritmo de expansão.
Mecchi afirmou ver com bons olhos o tom mais hawkish (pró-aperto monetário) adotado pela autoridade monetária. “[O BC] precisava surpreender o mercado de maneira um pouco mais dura”, disse o gestor da MZK, fazendo menção à pressão inflacionária persistente e aos níveis elevados do câmbio.
Exagero do mercado
A sócia da Polo Capital diz também que, mesmo com os riscos fiscais no radar, considera exagerados os níveis nos quais o mercado precifica a taxa de juros em 2023, por volta de 9,5% na curva futura. Considerada a meta de inflação de 3,25% para daqui a dois anos, a economista entende que a economia local não é capaz de absorver um juro real por volta de 6% ao ano sem que haja um impacto severo para o ritmo da atividade.
Por conta disso, os multimercados da gestora carregam posições aplicadas, que ganham com a queda dos juros, nos vencimentos de 2022 e 2023. “Temos sofrido bastante com essa posição, mas entendemos que um juro precificado ao redor de 9,5% chegou perto do teto”, afirma Luciana, acrescentando que os multimercados têm se beneficiado da aposta comprada (que ganha com a alta) no real contra o dólar.
Na live de ontem, Mecchi, da MZK, disse que a aposta comprada na moeda brasileira frente ao dólar e a pares emergentes é a maior convicção hoje no portfólio dos multimercados da casa. No caso da BlueLine, o economista-chefe afirmou que os fundos também têm carregado posições que ganham com o fortalecimento da divisa local, mas de maneira mais tática, frente aos riscos fiscais e políticos no horizonte.
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